domingo, 26 de julho de 2009

Monitor Campista MAIS CULTURA Terça, 21 de julho de 2009 · Edição Nº 192 · Ano 176


História bem traçada
Clausner Rodrigues é o autor das ilustrações de Carukango - o príncipe dos escravos
Alicinéia Gama

Lançado há duas semanas, o livro ‘Carukango – o príncipe dos escravos’ traz à tona uma comovente história de luta que pouca gente conhece e que a partir a agora ganha lugar de destaque na história regional, graças não só à pesquisa do autor, Hélvio Cordeiro, mas também às 11 ilustrações de Clausner Rodrigues Martins, que permitem ao leitor imaginar como foi a saga do homem que lutou contra a escravidão até a morte.

Para dar conta do trabalho, o desenhista teve um prazo de aproximadamente 10 dias e conta que buscou inspiração nas histórias em quadrinhos e no cinema. “Na cena, por exemplo, em que Carukango foi morto eu lembrei de ‘Os sete samurais’, que é um filme japonês e em preto e branco. A história lembra um pouco também, já que os samurais têm muita resistência, assim como os escravos”, destaca.

Já para fazer o último desenho (o da menina Justina no colo da sua mãe de criação) Clausner buscou inspiração na própria família. “Fiz o retrato da dona Sônia, que é empregada da minha avó há mais de 30 anos. Como eu gosto muito dela, resolvi fazer esta espécie de homenagem para que ela ficasse, de certa forma, imortal”, comenta.

Outra curiosidade diz respeito à imagem do navio Gaivota Feliz (que fez o transporte dos escravos da África para o Brasil). “Hélvio pediu que eu desenhasse só o barco e como de feliz ele só tinha o nome, eu tive a ideia de também inserir os escravos tristes e desesperados, mostrando que nem tudo era feliz naquele momento”, explica Clausner, salientando que este foi o seu primeiro trabalho para livro. “Fiquei muito feliz quando o Hélvio me convidou porque é um sinal de reconhecimento. Minha família também está muito contente”, ressalta.

Apesar de prazerosa, dar conta do recado não foi uma tarefa assim tão fácil. “A única coisa que eu tinha em mãos era um resumo do livro em três folhas de papel. Foi um grande desafio, um trabalho muito difícil, pois sou professor da rede estadual e dou aula o dia todo. Então, você chega cansado e bate logo aquela vontade de dormir, mas como combinei de fazer este trabalho e gosto de ser profissional eu fiz tudo de madrugada. Às vezes, até dormia em cima dos desenhos”, recorda.

O rapaz ficou tão impressionado com a narrativa que chegou a sonhar com ela. E foi numa dessas noites que veio a sua mente a ideia de como foi dura a batalha (na página 66) entre os fazendeiros da região e soldados milicianos contra os quilombolas. “No dia em que eu combinei de entregar os desenhos eu só tinha conseguido fazer os 10 e o último eu acabei fazendo lá no Monitor (onde o encontro foi marcado)”, conta.

BIOGRAFIA
Clausner nasceu no Rio de Janeiro, mas sua família é toda de Campos. Ele conta que desenha desde a infância e, incentivado pela mãe, sempre foi um leitor assíduo de quadrinhos. O rapaz conta que tem uma identificação muito grande com os traços da história de ‘Conan, o Bárbaro’, embora não a leia mais. “Esta revista tem muita cena violenta e só depois de adulto percebi isso. E hoje, depois que me converti, não compro mais a revista, mas a inspiração dos traços dos personagens acabou ficando”, diz.

Por querer se aprofundar na história da arte como um todo, Cross (como é conhecido) decidiu estudar Educação Artística e concluiu o curso na Universo, de Niterói. Depois, veio a pós-graduação na mesma área (na Ferlagos, em Cabo Frio). O rapaz não quer parar aí: pensa em fazer mestrado e nutre um sonho de infância: ser cineasta. “Pretendo fazer este curso de Cinema que vai ter em Campos. Só sei que não quero parar de estudar não”, adianta Clausner, que já produziu três curtas caseiros.

Sua vinda para Campos se deve à aprovação no concurso público para o magistério na esfera estadual. Atualmente ele dá aula de Educação Artística no Colégio Estadual Visconde do Rio Branco (na Lapa) e no Colégio Estadual Dr. Máximo de Azevedo (na Penha). Enquanto não compra a casa própria (um dos seus sonhos) ele vai revezando a sua estada na casa da avó Guiomar e do tio, Levi Quaresma.

Clausner deu aula na Escola de Artes e Ofícios e no CAPS (Centro de Atenção Psicosocial), ambos em Itaboraí. “Dei aula para pacientes com transtornos mentais e foi uma ótima experiência. Todos têm saudade de mim. Sempre que vou a Itaboraí visito alguns dos meus ex-alunos... O que falta a essas pessoas é amor”, comenta Cross, que chegou a fazer um filme com este grupo.

Difícil de ser pronunciado, Clausner conta que herdou o nome do pai. “É que minha avó, Guiomar, teve um professor que se chamava Clausner, só que escrevia com K. Ela gostava muito deste professor e deu este nome ao meu pai”, explica.

Como a maioria dos mortais, ele também tem um apelido: Cross. “Desde pequeno sou chamado assim... Acho que é por causa de Clausner ser um nome difícil de falar”, acredita.